A Lenda de Átima - Parte VI

VI

Não fora como escrever uma matéria jornalística qualquer. Parecia-se mais com um ensaio religioso. Enquanto a escrevia senti que as palavras fluíam naturalmente de minha mente para o teclado da máquina de escrever. Se me sentia cansado ou desanimado, recordava-me da pequena tatuagem gravada em meu peito, um círculo e um triângulo representando a união de dois povos, e minhas forças se renovavam. Quando finalmente me convenci que tudo estava pronto apresentei ao editor chefe que aprovou o texto sem alterar uma vírgula sequer. Nunca soube se agiu assim movido por um sentimento de respeito a um velho jornalista que publicava uma fantástica estória de ficção ou se, como Bruno dissera, as pessoas tinham o dom e entenderiam o que eu escrevesse.

A verdade é que a matéria se espalhou pelo mundo afora como Bruno previra. De todas as partes do mundo, cartas chegavam falando de pessoas que tinham renovado suas esperanças na vida ao ler meus artigos. Dois povos do oriente médio, que a anos dizimavam-se mutuamente numa guerra estúpida, depuseram suas armas e decretaram a paz ao mesmo tempo que meus escritos chegavam até eles. Fatos como estes, alguns não tão notórios multiplicaram-se pelo mundo afora até que por fim o mundo pareceu ter encontrado a paz.

Quando a tarde começava a se aproximar, nestes dias de primavera, e o céu apresentava uma suave coloração azul, um agradável aroma de flores se espalhava por toda a cidade. O sol, aos poucos, sumindo por trás das colinas que formavam o relevo, tão familiar, ao redor da cidade, pousava seus raios sobre nuvens brancas e finas, colorindo o céu com tons de vermelho e laranja.

Enquanto todos permaneciam na sala da redação do jornal, mudos e estarrecidos diante da televisão com a notícia de que uma grande nave alienígena, há dias observada por nossos satélites, finalmente penetrara em nossa atmosfera e estacionara sobre a Chapada dos Guimarães, eu permanecia ali, deslumbrado por aquele magnífico espetáculo que sempre me comovia, imaginando que desta vez ele não marcava apenas o fim de um novo dia, mas o ocaso de uma era.

FIM

Nenhum comentário: