Verbo

Viver,
ainda que de modo angustiante
auferindo aos trancos
o hálito revigorante.

Sofrer,
pois não há quem se lembre,
além do agente,
do que ele fez em prol de toda gente,
construindo um presente
que dele prescinde e se ressente.

Arder,
pela força do grito aprisionado,
que jaz quedado,
ante a ignorância,
mesquinha falência moral,
que se impõe,
malgrado o desejo de ver realizado,
cumprido, completado, o plano...

Morrer,
ainda que tardiamente,
amado, cuspido, escarrado, odiado.
De peito erguido,
cabelo ao vento elevado,
tempo e espaço curvado a ver,
tão plena obra,
num só encarnado.

Fluir,
de um plano a outro,
levar de um o que o outro carece,
com equilíbrio e majestade,
ponto vulgar, celebridade.
Não mais agora, nem tarde.
Sempre no ocaso, à tarde.

Ser,
e que o seja além do existir,
que enseja o desejo no ser,
que se arrasta insosso,
sem ânimo ou tormento que o faça sentir.
Que anseie transcender o próprio ser,
buscando apenas ser, tudo.

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